quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

História da Astrologia V (da Babilónia à Internet)

Avicena

Idade Média: O Mundo Árabe

A decadência do Império Romano (século V) e a perseguição aos astrólogos levaram a astrologia para o mundo árabe, que pouco a pouco foi se tornando um grande centro cultural e científico.

Foram os árabes que conservaram todo o legado astrológico da antiguidade, agregando novos elementos [19] e permitindo que, posteriormente, a astrologia voltasse definitivamente para a Europa, por meio das Cruzadas.

Até o século VIII, é possível identificar no mundo árabe uma cultura perso-helénica influenciada por sírios e judeus.
A partir do século VIII, os árabes passaram a ter interesse pela astrologia, começando um movimento de tradução, que culmina nos séculos X e XI, com um grande desenvolvimento das ciências, inclusive da astrologia, principalmente em Bagdad e Alexandria, que foram os grandes centros intelectuais do mundo árabe.
Houve também uma presença árabe importante na Europa até o século XV, principalmente em Espanha, devido às invasões mouras.
Inúmeras traduções datam desse período. [20]

Os árabes usavam muito a astrologia horária, que é como um oráculo de perguntas e respostas, baseando-se no mapa astrológico da pergunta.
Por isso, o islamismo aceitou a astrologia melhor do que o cristianismo, pois essa prática não teria nenhuma relação com o destino do indivíduo.
Só para ilustrar, Mash'Allah e Nawbaht calcularam o mapa astral que determinou o dia inicial da construção da cidade de Bagdad (30 de julho de 762) [21], e Albumassar (falecido em 886) envolveu-se profundamente no movimento de tradução, compôs "tratados independentes e estabeleceu a astrologia como uma ciência na nascente civilização islâmica" . [22]

Por outro lado, os célebres Avicena (980-1037) e Averroes (1126-1198) hostilizaram a astrologia.
Entretanto, Averroes desenvolveu um sistema cosmológico que, por sua base aristotélica, acaba fundamentando as bases da astrologia.
É como se pudessem existir duas verdades diferentes sobre uma mesma coisa, a verdade dos homens e a verdade de Deus.
Essa ideia era extremamente polémica na época, pois invertia os valores sociais.
Era inaceitável imaginar que a verdade de Deus não fosse a única verdade.
Mas é justamente essa tese a condição de possibilidade, para que se consolidem os alicerces da ciência moderna, como veremos a seguir.

[19] Segundo Martins, os árabes foram além de Ptolomeu, fundindo, definitivamente a filosofia aristotélica, a astrologia e a medicina. [cf. MARTINS, R. A. "A influência de Aristóteles na obra astrológica de Ptolomeu (O Tetrabiblos)" in Trans/Form/Ação. SP: 1995 - p. 76]
[20] cf. GUTAS, D. Greek thought, arabic culture. London & NY: Routledge, 1998
[21] ibid. - p. 16
[22] ibid. - p. 109 - minha tradução
[23] CAMENIETZKI, C.Z. A cruz e a luneta. RJ: Access, 2000 - p. 22


DA BABILÓNIA À INTERNET
Uma breve História da Astrologia

por Cristina Machado
http://www.constelar.com.br

Sem comentários: